A cúpula
Havia tensão no olhar do Pai, que olhava para o filho preocupado e cabisbaixo. Era tudo tão informal e sem qualquer ligação com o mesmo. Até que, dificilmente, ao olhar nos olhos de Collins, seu primogênito, definitivamente começou a falar.
— Desculpe, meu filho, tenho de lhe dizer.
— O quê? — indagou Collins assustado.
— Tudo bem, eu entendo seu lado, por você está tudo certo, mas para nós — ele se referia aos amigos, amigos de amigos e familiares — não está. E eu não aguento vêlo assim, fechado, totalmente focado em apenas uma simples tela de computador. Você precisa ir a algum lugar, sair desse mofo, desse muquifo. Desse cubículo.
O filho olhou frustrado para o pai, franzindo a testa. Coçou a parte de trás da orelha, passou a mão no cabelo e, desconfiado, também perguntou ao Pai o que, para ele, naquele instante, havia de errado com ele; e se certamente houvesse, havia de ter ajuda.
— Você não enxerga o que enxergamos. Você não consegue raciocinar como raciocinamos. Estamos do lado de fora de você mas você mesmo não se põe para fora; pelo contrário. Está entendendo? — disse, confuso, certo e ao mesmo tempo enigmático.
O Pai coçou a cabeça, limpou a testa que começava a suar devido ao nervosismo em ter um diálogo profundo com Collins. E o mesmo, novamente, sem entender nada, respondeu:
— Não, Pai. Você está falando por enigmas — disse, sentindo que não havia um bom clima no ar. O Pai suspirou e, indiretamente, começou:
— Você cria uma cúpula em você mesmo.
Collins ouviu aquilo e seus olhos marejaram.
— Olhe para você, garoto, se relaciona com ninguém. Está completamente mudado. Saia dessa cúpula, desse casulo.
— Mas que cúpula é esta?
— Viver sozinho, filho. Trancarse em um local só. Não se relacionar pessoalmente com alguém. Há muita coisa fora desse mundo que você há de experimentar. Aliás, devia experimentar. E já! — exclamou.
Collins ficou cabisbaixo. Reconheceu o erro e não disse nada mais. Ficou mudo. Por muito tempo.
— Vamos ajudar? Um ao outro? Vamos nos ajudar? — sugeriu o Pai.
— Como?
O Pai pegou uma revista que continha um mapa no verso, pegou uma caneta e riscou um local do continente Europeu.
— Vai ser nosso primeira ajuda. Nada de terapia ou algo assim.
Collins derramou uma lágrima do olho direito.
— Vamos — afirmou.
O Pai sorriu.
— Tem muita coisa boa para você, ainda que é jovem, ver de perto.
Collins deu um sorriso amarelo e começou a chorar.
O semblante do pai ficou severo rapidamente, de uma hora para outra. Levantou o dedo indicador e disse em seguida: — Tenho uma condição.
Collins limpou as lágrimas e indagou qual seria a sua sugestão. Severo, olho a olho (chegava a dar medo), o Pai soltou: Nada de eletroeletrônicos. Vamos nos divertir. Sem celulares, notebooks ou algo assim.
Collins derramouse em lágrimas novamente. O Pai o amparou e disse:
— Apenas quero ajudar você Collins. A sair dessa cúpula. Dessa fixação. Desse mundo irreal que você criou. Quero mostrar que o mundo real é melhor que o mundo virtual.
Ressentido, o filho assentiu.
Voltando da viagem, as energias estavam renovadas. Foram para a Inglaterra. Visitaram monumentos e conheceram pessoas prazerosas.
— O que achou?
Sorrindo, Collins respondeu:
— Há muita coisa fora desse mundo que você há de experimentar.
(Gabriel Francisco)
Comentários
Postar um comentário