O interrogador



— Na noite de ontem, o quão você ficou tão lerdo para conseguir desmaiar durante a festa de formatura em que a sua namorada estava participando e convidou­lhe?
— Para ser sincero, eu não fiquei tão lerdo quanto vocês imaginam. Alguém colocou algo na minha bebida e daí, alguém veio por trás e me bateu. Eu caí e desmaiei, acho.

— Você sabe quem?
— Eu fui dopado e eu vou saber quem lá colocou alguma coisa na minha bebida? Pensa. Você quem é o interrogador — respondi.
— Você sabia que ela estaria morta neste instante, não sabia?
— E por que eu acreditaria nisso neste momento? — provoquei.
— Porque eu tenho provas. — disse o estranho que estava do meu lado, sentado. Eu estava sentado na cadeira de ferro com as algemas peludas comprada em algum sex­shop; e qual afinal era o sentido de ser algemado em uma cadeira com algemas de sex­shop? Bom, isso não vem ao caso, mas enfim — ele mostrou as provas. Era horripilante, mas demonstrei­me frio diante da situação. Sua cabeça, quero dizer, a de Sophia, estava em uma mão enluvada e o corpo estava jogado do lado, no centro da sala que continha uma uma estrela de cinco pontas. A estrela de cinco pontas, segundo dizem, quer dizer a estrela de Satã.
— E você acha que eu, dopado, iria matar e degolar a minha própria namorada, seu imbecil.
— Claro que não.
— E por que você está querendo saber mesmo o porquê de tudo isso?
— Para prender o assassino, óbvio.
— Mas como vou saber — exasperei.
— Porque o assassino está aqui.
Gelei.
— Tem três pessoas aqui. Você está enxergando bem ou precisa de óculos para enxergar melhor? Não respondi. Ele puxou meus cabelos, o estranho.
Havia uma janela ali no fundo. Pareciam ser monitorados igual aqueles interrogatórios do CSI. Porém, a sensação era bem diferente. E pior. O estranho fez um pequeno movimento com a cabeça e dois dedos foram levantados. Era um sinal; as janelas se fecharam. E tudo se fechou. As luzes que antes acesas começaram a se apagar, bem brandamente. E o círculo formou­se novamente.
— Quando eu disse que o assassino estava aqui...ele estava aqui o tempo todo. Te interrogando. Para saber, na verdade, se tudo estava bem.
Comecei a me mexer na cadeira, para ver se alguma coisa adiantaria; e eu idiota, saberia que não adiantaria. Ao contrário. Eu caí.
O estranho limpou o punhal na mão. Estava afiado.
Ele começou a passar o punhal pela minha pele. Rasgando­a cautelosamente, depois a perfurá­la em alguns pontos; os que não afetariam em nada, provavelmente, só causariam angústia.
Ele havia tido aquela sensação de furar­me inteiro por provavelmente cinquenta minutos. Não havia forças mais para conseguir sequer ficar em pé. E então ele pediu para um dos capangas que


ao lado estavam, ficar do lado dele e soltar o punhal. este deu um giro e ele deu um grande golpe mortal em meu peito, fazendo­me sangrar por todos os cantos em que me furara. Bem no círculo de Satã.

... E esta foi mais uma lenda urbana contada por mim durante o acampamento de férias em verão. Que tal, gente?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rede

Embebedar­-se

BICAMPEÃO: GALO FA abre larga vantagem e 'detona' América Locomotiva