Teoria



Ninguém sabia ao certo o quanto doía assisti­la ali, trancafiada em um quarto. Não era bem um quarto, na verdade, era uma caverna, pois subterrânea era. Não posso descrevê­la como hostil. É muito ofensivo. Que tal..horrenda? Seria mais utilizável colocá­la dessa maneira. As únicas coisas que ali haviam era uma mesa cirúrgica típica daquelas UTIs ou CTIs não sei ao certo qual termo utilizá­lo, já que em termo, pode, neste caso, ser utilizado qualquer um dos dois. Não faria diferença.

Ela tentava gritar. Sem sucesso.
As amarras nas mãos eram fortes o suficiente. Não conseguia, de qualquer jeito, libertar­se, caso

tentasse. Titânio? Improvável de se soltar.
Os respectivos instrumentos de corte — e quando digo corte, não estou me referindo a certos instrumentos como bisturi ou algo assim— estavam expostos ao lado esquerdo de uma mesinha simplória, de madeira em tons rústicos. Os instrumentos eram espátulas e serras, tesouras, pinça para retirar alguma parte que deve ser mais detalhada ou enfim...cortá­las detalhadamente.
Eu tirei o lacre (a fita) de sua boca em um ímpeto. Ela gemeu de dor
— O que vai fazer comigo?
— São apenas teorias.
— Quais tipos de teorias — replicou a vítima.
Supliquei e pensei por um instante. É verdade: Quais teorias?
— Ainda não sei — respondi, quase hesitante.
Peguei a serra e a tesoura. Com a tesoura comecei a cortar a vítima. Ela gemia (baixo, porém gemia) tentando resistir à dor; a serra, embora com minhas mãos trêmulas, começaram a cortar os dedos devagar. Jorrava sangue por todo lado. É claro, evidente que eu estava formalmente preparado: avental, mascaras e luvas. Onde eu estava cometendo o homicídio, não havia onde descobrir. Eu acho.
Depois de extrair três dedos ela encontrava­se desfalecida. Provavelmente pela dor.
Eu então busco em um baú.três dedos assim como os que dela havia arrancado. Tirei o anelar, o médio e o polegar. Comecei a costurar os dedos de outro nela. O problema, é que era incompatível. Problemão. A vítima não poderia ainda morrer. Então resolvi abrí­la mais um pouco com a serras, para ver se os ligamentos correspondiam. Droga. Eles não correspondiam totalmente. Um dos dedos ficariam sem se mexer. Ah, dane­se! É apenas uma droga de um experimento!
Que porra! Porra! Este experimento, esta teoria de que o homem pode dar a vida
Então resolvo testar o tórax dela. Droga! Qual é, afinal, o tipo sanguíneo dessa desgraçada? A negativo? Shit! Eu deveria ter ao menos pesquisado o sangue dos demais em que eu matei e joguei­os fora. Maldito pensamento atrasado.
Sei que O positivo doa a todos mas não quero ir a um posto de saúde, certo? Vão, obviamente, desconfiar do que eu faço.
A missão falhou, meu caro. Mate essa mulher que não mais merece viver. Outra vítima um dia eu acho que lhe trará sorte.


Por enquanto, a teoria é de que o ser humano não poderá fazer outro ser humano....com partes diferentes do corpo eu digo.
— Vamos para o Plano B — falei em tom sério ao mesmo tempo que sarcástico.
— O que vai fazer comigo? — tornou a perguntar a vítima já em pânico e praticamente falecida. Sua voz era fraca. Quase de uma pessoa anêmica, sem forças.

— Não me resta outra opção, querida. A serra começou a escorregar em minhas mãos. No sentido figurado, eu digo. Cortei­lhe a garganta e calmamente, com a pinça retirei seus olhos. O impressionante é a cor do sangue. Não o sangue em si. A cor. Ela me fascina. E a dor. Ela me obriga a querer mais. Como se fosse a nicotina de um cigarro.
E assim, eu comecei a esfaqueá­la cautelosamente. Sem piedade.
É a droga do experimento. Era apenas uma droga de experimento. Mas Einstein errou um dia. Hawking errou um dia. Sócrates errou um dia. E eu também errei. Afinal, eu erro. Todo mundo erra.
E para não frustrar­me diante do erro. Resolvi matá­la. Lentamente. Foi a única sensação boa em que eu tive naqueles quadro dias em que mantive aquela linda morena dos lábios carnudos em cativeiro. A Teoria de que o homem pode reconstruir­se com pedaços de outros homens é inútil, pelo menos até então.
Resolvi então, relatar mais uma de minhas vinte e cinco experiências. Fracassadas, eu sei, mas que um dia dará certo.

Dr. Gabriel Taylor Schimidt 1978, Janeiro, 15

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